Malungu

Presidente Lula visita comunidade quilombola em Acará, no Pará

Tudo que a gente fizer ainda é muito pouco diante das décadas de abandono", disse Lula durante a visita no quilombo Itancoã Miri

“Eu conheço muitos países, mas nada é mais generoso do que ver o rosto de um povo resiliente e que luta incansavelmente”, diz Lula durante visita ao quilombo Itancoã Miri.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou, na manhã desta segunda – feira  (3), a comunidade quilombola Itacoã Miri, localizada no Baixo Acará, no Pará. A visita integra uma série de agendas preparatórias para a COP30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém, entre os dias 10 a 21 de novembro.

O presidente chegou à comunidade de barco, caminhou até a casa do quilombola José Maria Alves, conhecido como seu Zeca, liderança histórica e um dos fundadores da Malungu – Coordenação das Associações das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará, que representa mais de 600 territórios quilombolas do estado.

Participaram da agenda os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar); Anielle Franco (Igualdade Racial); César Aldrighi (presidente do Incra) e Ronaldo Santos (secretário de Políticas para Quilombolas e Povos e comunidades Tradicionais).

Durante a roda de conversa, Lula ressaltou a importância do encontro com os quilombolas e defendeu que o Brasil e o mundo conheçam de perto a Amazônia e seus povos, ao mencionar por que o Pará foi o escolhido para sediar a COP30.

“Nós vamos fazer com que o mundo conheça a Amazônia. Que venham colocar os pés aqui no estado do Pará, conhecer nossos rios, nossa fauna, conhecer tudo o que a gente tem e, sobretudo, o ser humano brasileiro, o ser humano do Pará, e a culinária mais poderosa que esse país tem.”

O presidente afirmou que veio ao quilombo para ouvir as demandas das comunidades e destacou que os avanços ainda são insuficientes diante das décadas de abandono.

“Tudo que a gente faça ainda é muito pouco pela quantidade de décadas de abandono. Eu não vim aqui pra vocês me darem parabéns. Eu vim aqui pra vocês me questionarem.”

Lula também reforçou a importância da presença do governo federal nas comunidades, para entender de perto as especificidades das comunidades tradicionais.

“Os créditos que a gente anuncia todo dia em Brasília não chegam em todo canto. A gente tem que botar o pé no território, porque a cabeça da gente pensa de acordo com onde os nossos pés pisam.”

Ao falar sobre políticas públicas, mencionou a necessidade de garantir acesso à energia elétrica, educação e saúde, lembrando que ainda há comunidades sem o programa Luz para Todos.

“Já pensou que tem comunidade que não tem luz para todos? E eu achando que tinha em todo território nacional. Vamos ter que resolver isso.”

Em tom emocionado, o presidente agradeceu aos anciãos do território pela trajetória de resistência e destacou o papel das políticas de cotas na transformação das novas gerações quilombolas:

“Quando eu cheguei na casa do seu Zeca e comi o bolo de macaxeira que dona Antonia vendia para educar as filhas, e vi todas elas formadas pela lei de cotas, vocês não sabem o orgulho que eu tenho de saber que a gente tá contribuindo pra que os filhos do povo mais humilde possam virar doutor e o que quiserem.”

“Eu conheço muitos países, mas nada é mais generoso do que ver o rosto de um povo resiliente e que luta incansavelmente”, declarou.

O quilombo Itancoã Miri é um dos 121 territórios titulados pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa). Já pelo Incra, apenas 14 territórios quilombolas foram titulados, o último deles há sete anos. Uma realidade distante para dezenas de comunidades que aguardam o reconhecimento garantido pela Constituição Federal de 1988.

Seu Zeca, de 71 anos, destacou o simbolismo da visita presidencial:

“Me sinto muito feliz por estar vivendo esse momento que vai ser contado há gerações. Mas, por ser uma visita que representa todos os quilombos, digo que para que nosso povo seja livre verdadeiramente, todos os territórios precisam ser reconhecidos e titulados, e que junto a isso venha o acesso às políticas públicas.”

Nascido e criado em Itancoã Miri, seu Zeca tem uma trajetória marcada pela militância. Para ele, a visita do presidente é também resultado dessa luta. 

“A visita do presidente, além de ser uma compensação da luta, nos traz uma mensagem de que é preciso continuar. A luta pode demorar, mas ela traz grandes resultados. Que essa visita seja um ponto de partida para novas conquistas para as comunidades quilombolas.”

Encerrando o encontro, Lula deixou uma mensagem aos quilombolas. 

“A gente não tem que conhecer vocês por livro ou por televisão. A gente tem que conhecer vocês olhando nos olhos de vocês. Vocês têm as mesmas vontades que a gente: progredir, viver em paz com a família, trabalhar, viver do próprio salário, educar os filhos, ter um bom posto de saúde, uma boa escola e prazer pela vida.

 

Quero agradecer a dedicação de vocês, especialmente dos mais velhos. É muito importante que a juventude veja que o que eles vivem hoje não é uma coisa de graça. Essas pessoas que estão aqui dedicaram grande parte da vida delas pra que a gente pudesse ter o conforto que temos hoje, finalizou.

TEXTO: Mayara Abreu – Assessoria de Comunicação Institucional da Malungu
FOTOS: Mayara Abreu

 

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